16/07/12

Montar, converter e comprar fixed gear, questões diárias da loja:

Quanto custa uma fixed gear?
Na RodaGira, partindo de um quadro de ferro ou aço antigo de baixa qualidade e fazendo a montagem com componentes novos, custa cerca de 350€.
Se partirmos de um quadro em cromoly: reynolds, vitus, tange ou columbus, o preço começa em 400€.
Se a montagem for feita com um quadro novo RodaGira em cromoly, a montagem começa em 550€. Outros quadros e acessórios só examinando cada caso.

Mas qual a maneira mais barata de montar uma fixed-gear?
Costumo dizer aos cliente que a forma mais barata é conseguir uma bicicleta de estrada antiga por um bom preço e de seguida alterar os “componentes certos”.

Que bicicleta devo comprar?
Se vais comprar uma bicicleta antiga para converter, então procura uma com alguma qualidade. Refiro-me ao aço do quadro e componentes. Muitas vezes comprar uma bicicleta barata (50€) acaba por ser só isso, uma bicicleta barata. A maioria das bicicletas nacionais, com excepção de algumas poucas marcas, são de fraca qualidade, não só dos quadros mas também dos componentes. Esmaltina, sirla, orbita, ucal, azur e dezenas de outras marcas nacionais, têm os quadros construidos com ferro ou aço de baixa qualidade. As marcas nacionais que habitualmente apresentam melhores quadros e melhor equipamento são normalmente: masil, rodaplana, altis, cosmos (há outras...)

Que devo ter em consideração na compra de uma bicicleta usada para converter?
·         quadro: regra geral quadros com tubagens de cromoly de qualidade usam espigões de selim com diâmetro acima de 26mm (bons quadros usam 26.8mm; 27mm e 27.2mm). Normalmente os quadros têm os tubos unidos com “casquilhos” (lugs) com determinados detalhes de acabamento; As escoras (dropouts) onde encaixam as rodas são mais grossos; Por fim, muitas vezes têm um autocolante a indicar a tubagem utilizada (é verdade que qualquer um pode colocar um autocolante, falsificando o quadro, mas há características inevitáveis);
·         componentes: procura uma bicicleta que traga os componentes: avanço, guiador, espigão de selim, cubos e aros em alumínio. Habitualmente quando estes componentes são de ferro, é sinal que se trata de equipamento de gama baixa; Evitar bicicletas com pedaleiras de cavilha;
·         as rodas devem ser de alumínio e de parede dupla (isto só se consegue confirmar após remover o pneu); Atenção, muitas bicicletas de boa qualidade trazem rodas de qualidade mas para boyaux (tubulates) e não para pneu convencional. Quer isto dizer que não conseguirás aproveitar para montar uns pneus normais, com camara de ar, mas somente pneus de boyaux (tubulares). Algumas pessoas utilizam boyaux em cidade, mas devido à dificuldade com a montagem (o pneu tubular é colado ao aro) e preço, é raramente utilizado. Para utilização em fixedgear é totalmente desaconselhado.
·         Os dropouts, devem ser horizontais, importante para que se consiga esticar a corrente e manter a tensão.
·         As roscas, sem entrar em considerações muito técnicas, mas que penso serem importantes, as roscas do quadro deverá  ser um elemento a ter em conta, simplesmente porque nenhum componente é eterno e poderá haver necessidade de substituir. As roscas mais comuns são: inglesa, italiana, francesa e suiça. As problemáticas são normalmente as roscas suiças e francesas, porque não só têm um “passo de rosca” mais estreito como muitas vezes têm um diâmetro diferente (caixa de direcção). É difícil estabelecer quais os quadros com determinadas roscas, porque se é verdade que a maioria dos quadros ingleses não trazem roscas francesas, o mesmo não se aplica aos quadro nacionais. Já apanhei de tudo, quadros com rosca inglesa, quadros com rosca francesa e quadros com rosca francesa na caixa de direcção e inglesa no bottom bracket.
Muitos quadros franceses além de usarem exclusivamente caixas de direcção de rosca francesa, têm também o tubo da forqueta (garfo) mais estreito (em vez dos habituais 22,2mm, são de 22m) Significa que muitas vezes em quadros franceses não é possivel utilizar os comuns avanços de 1''. É também comum que alguns quadros franceses utilizem a medida de espigão de selim de 25mm (já pouco comum, o que torna difícil alterar o espigão no futuro).
Destaquei aqui os quadros franceses por serem normalmente os mais problemáticos e bastante comuns em portugal.

Qual o preço justo a pagar por um quadro ou bicicleta antigos?
Há preços e preços e componentes e componentes! Há campeonatos diferentes, vou apenas referir-me ao mais comum.
Uma bicicleta de ferro com componentes em ferro, ainda que sem estarem ferrugentos dificulmente vale mais do que 60€ ou 70€. Se pensarmos que a maioria destes componentes não são mantidos na conversão, então 70€ já é demais para uma bicicleta onde apenas se vai aproveitar o quadro e caixa de direcção;
Um quadro de ferro de baixa qualidade, não mais de 50€;
Um quadro de cromoly reynolds, vitus, tange, columbus, habitualmente o valor começa em 75€ e é infinito... Nestas tubagens há diversas gamas com diversos valores e claro, o estado do quadro. Diria que o preço médio para um quadro deste é entre os 100€ e os 250€, mas tudo depende do quadro.

Se já tenho uma bicicleta de estrada antiga que componentes preciso trocar?
Habitualmente sugiro sempre que se troque o conjunto pedaleiro (crankset e bottom bracket), corrente e a roda ou cubo traseiro. Excepto em bicicletas que trazem aros de boa qualidade (mavic, ambrosio, fir, campagnolo, etc) vale a pena manter o aro e trocar apenas o cubo e raios. Muitas bicicletas trazem aros de parede simples que não duram muito quando usados diariamente.
O conjunto pedaleiro de estrada poderá ser uma opção a manter quando é de alguma qualidade (campagnolo, shimano, sugino, stronghlight) no entanto deverá ser temporária, já que é comum os cranks de estrada não se aguentarem muito tempo com a tensão aplicada, acabando por torcer e/ou partir. Outro problema de usar os cranks de estrada com eixo de origem em conseguir um alinhamento de corrente correcto.

E se em vez de uma bicicleta antiga comprar uma fixed nova já montada?
Tudo depende do orçamento de cada um, já que as opções são imensas: ferro, cromoly, alumínio e carbono. Nem todo o aço e nem todo o alumínio é igual. Muita gente considera que os quadros antigos são melhores, melhor qualidade e com outra “alma”. Isto não é necessariamente verdade. Só podemos comparar quadros de “antigamente” com quadros actuais se estivermos a comparar quadros da mesma gama.
Bicicletas completas sai mais em conta, mas a parte da personalização estetica e de componentes fica habitualmente de fora.
Geralmente opta-se por quadros de aço cromoly pela simples razão de serem quadros leves e com flexibilidade, conseguindo-se uma bicicleta leve (10kg ~) e confortável para usar na cidade.
Muitas marcas actuais oferecem bicicletas fixed completas entre os 350€ e os 450€, no geral são quadros em Hi-ten steel (o ferro mais barato da cadeia) com componentes de gama baixa. As cores são apelativas mas tratam-se de bicicletas de baixa qualidade e visualmente pouco harmoniosas. Normalmente usam este material marcas que apenas estão a tentar apanhar o comboio do fixed-gear.
As marcas mais envolvidas e preocupadas com a qualidade já oferecem quadros em Crmo 4130 (double butted) são quadros em cromoly, mais leves, resistentes e flexiveis. Estas marcas vendem os quadros entre os 250€ e os 350€ e as bicicletas entre os 550€ e os 750€;
Outro campeonato são os quadros de alumínio, habitualmente mais leves mas mais rijos e menos confortáveis. Muitas vezes os quadros de alumínio são escolhidos por quem procura bicicletas com um aspecto menos “retro”. Nem sempre uma bicicleta montada com quadro de alumínio acaba mais leve que uma bicicleta com quadro de cromoly, a diferença de componentes fará toda a diferença.

Resumindo e apenas a minha opinião, as melhores bicicletas e nem sempre mais caras conseguem-se com quadros em cromoly. No geral a maioria das pessoas que escolhe quadros e bicicletas de baixa qualidade quer seja a estradeira antiga quer seja a fixedgear do supermercado em hi-ten steel, acaba sempre por gastar dinheiro duas vezes, por se tratarem sempre de quadros e/ ou bicicletas de transição, temporárias;
Quando na loja questionam estas opções, sugiro sempre que, se tem pouco dinheiro, invista nos componentes que realmente pretende e que o faça por partes. Embora seja uma bicicleta que demore mais a montar o resultado final aproximar-se-á mais do pretendido.

Espero que vos ajude. Divirtam-se.

RodaGira: one gear X one love

4 comentários:

  1. Boas, Para quando um curso de montagem de fixed gears, têm já aqui um cliente, Abraços e que a loja ande sobre rodas ;)

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  2. Obrigado por este texto!
    Muito esclarecedor e honesto.
    Bem haja.

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  3. Quero saber se eu consigo transformar minha Speed 700 em uma fixed gears?

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  4. Eu tenho um velhinha com poucos quilómetros que quero manter (sem alterar para fixed). A única coisa que vou trocar por agora é o selim, espigão em alumínio (26,4mm), avanço (22,2mm) guiador em alumínio também é colocar uma caixa de rosca nova. Do resto e em geral está como nova. E uma Giant Coldrock já com 21 velocidades, (aros Araya) e já com pedaleira oval Bio-pace. O quadro penso que é em cromoly, mas tem uma boa construção.

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